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A influencia da inconfidencia mineira na literatura tomas antonio gonzaga

Imagem de Tomás Antônio Gonzaga

Tomás Antônio Gonzaga nasceu em Porto, Portugal, no dia 11 de agosto de 1744, e faleceu na Ilha de Moçambique, no ano de 1810. Usava o nome de Dirceu. Foi um jurista, poeta e ativista político luso-brasileiro. O poeta é patrono da cadeira de número 37 da Academia Brasileira de Letras.

Filho de um brasileiro e uma portuguesa, que após a mãe com um ano de idade, mudou-se com o pai para Pernambuco. Em 1761, voltou a Portugal para cursar Direito, na Universidade de Coimbra, tornando-se bacharel em Leis em 1768. Exerceu o cargo de juiz na cidade de Beja, em Portugal. Quando voltou ao Brasil, em 1782, foi nomeado Ouvidor dos Defuntos e Ausentes da comarca de Vila Rica, hoje cidade de Ouro Preto e, então, conheceu a adolescente de apenas dezesseis anos, Maria Doroteia Joaquina de Seixas Brandão, suposta inspiração para sua principal obra lírica (Marília de Dirceu). Porém, prestes a se casar com Maria Dorotéia tudo isso ruiu devido a sua ligação com o grupo de poetas árcades mineiros e os seus desentendimentos com o Governador Cunha Menezes, cujo desmandos foi por ele satirizado em versos. Denunciado de participar da Inconfidência Mineira foi preso e remetido para a fortaleza Ilha das Cobras no Rio de Janeiro. Depois foi exilado para Moçambique, condenado a um desterro de dez anos. Antônio Gonzaga morreu em 1810,aos 66 anos por causa de uma grave doença,após 10 anos preso em Moçambique faltando apenas 2 anos de pena.

Apesar de seu exílio, o amor que sentia por Marília nunca terminou. Mesmo que Marília tentasse sua liberdade em portugal, "Dirceu" nunca mais teve a oportunidade de voltar a ver sua amada, ele escreveu um livro composto por Liras que expressasse seu amor imensurável, que mesmo distante sobrevivia em seu coração.

"Dirceu" se foi obrigado a se conformar com a perda de seu amor e após anos na cadeia se casou com Juliana, moça africana que o ajudou a tentar combater sua doença.



Marília_de_Dirceu_-_Programa_Terra_de_Minas_-_Rede_Globo

Marília de Dirceu - Programa Terra de Minas - Rede Globo

Entrevista Alexandre Ibañez - Marília de Dirceu - Programa Terra de Minas

Gonzaga também escreveu uma obra satírica vinculada à figura do governador da capitania de Minas, Luís da Cunha Meneses. Estas cartas escritas na estrutura poética eram emitidas com o pseudônimo de Critilo e endereçadas ao pseudônimo Doroteu. Após investigações a respeito do autor, chegou-se a conclusão de que Critilo era Tomás Antônio Gonzaga e Doroteu era Cláudio Manuel da Costa.

Para se chegar a conclusão de que Critilo era Gonzaga foi feito um estudo de estilografia. Em analogia essa pode ser comparada ao DNA ou à impressão digital. Ou seja, em estudo exaustivo foram verificados, comparados entre si os textos do autor até se chegar a conclusão de que estes perteciam de fato a Gonzaga.

A poesia de Tomás Antônio Gonzaga apresenta típicas características neoclássicas, como a bucolidade, o equilíbrio, os fingimentos pastoris, as alusões mitológicas, a tendência descritiva de situações, o objetivismo. Mas também apresenta características pré românicas (proncipalmente na II parte de Marília de Dirceu). Gonzaga

Marilia-1-

consegue uma poesia de grande beleza na simplicidade, no idílio tranquilo, sem conflitos, em que reponta sempre uma nota de sensualidade.

O convívio com o Iluminismo coloca em seu estilo a atenuação de tensões e racionalizações de conflitos.

Obras[]

Como dito anteriormente, a principal obra do autor são as liras Marília de Dirceu, poemas de conotação romântica, inspirado em seu romance com Maria Dorotéia, expressão de um desejo por uma vida bucólica, simples, em contato com a natureza, assim como o almejado pelos escritores árcades. É o livro de poesia mais lido da língua portuguesa depois de Lusíadas, de Camões. Pode ser dividido em duas partes distintas: a primeira discorre sobre a fase romântica, a felicidade, o desejo de ter uma família, nos tempos felizes de noivado; a segunda traz uma reflexão sobre a justiça dos homens, já que o autor se encontrava exilado, enquanto escrevia, e o “eu-lírico” revela, no amor por Marília, sua consolação, que refletem ora o desânimo ora a revolta.As liras a sua pastora idealizada refletem a trajetória do poeta,na qual a prisão atua como um divisor de águas (a segunda parte do livro é contada dentro da prisão).

É como poeta integrado no espirito neoclassico e arcadio que Gonzaga,uma das maiores expressoes literarias da epoca,descreve Marilia :mulher nivea,de cabelos longos e louros.É assim que Gonzaga descreve Marilia na primeira lira da parte 1.Nao importava que Marilia fosse brasileira e morena,como o poeta a descrevera na lira seguinte(1,2).era,talvez,mais importante estra integrado no espirito e convençoes do arcadi

Mariliadedirceu

smo.

"Os teus olhos espalham luz divina,

A quem a luz do sol em vao se atreve,

Papoula,ou rosa delicada,e fina,

Te cobre as faces,que sao cor de neve

Os teus cabelos sao ins fios de ouro;

Teu lindo corpo balsamos vapora..."

Sem duvidas,outras descriçoes idealizadas como esta podem ser notadas no livro.


Marília de dirceu

Principal obra de Tomás Antônio Gonzaga

Trecho do poema Marília de Dirceu:


PARTE I
Lira I
Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,
Que viva de guardar alheio gado;
De tosco trato, d’ expressões grosseiro,
Dos frios gelos, e dos sóis queimado.
Tenho próprio casal, e nele assisto;
Dá-me vinho, legume, fruta, azeite;
Das brancas ovelhinhas tiro o leite,
E mais as finas lãs, de que me visto.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!



Antes do encarceramento, num tom de fidelidade, canta a ventura da iniciação amorosa, a satisfação do amante, que, valorizando o momento presente, busca a simplicidade do refúgio na natureza amena, que ora é europeia e ora mineira. Depois da reclusão, num tom trágico de desalento, canta o infortúnio, a injustiça (ele se considera inocente, portanto, injustiçado), o destino e a eterna consolação no amor da figura de Marília. São compostas em redondilha menor ou decassílabos quebrados. Expressam a simplicidade e gracioso lirismo íntimo, decorrentes da naturalidade e da singeleza no trato dos sentimentos e da escolha linguística. Ao delegar posição poética a um campesino, sob cuja pele se esconde um elemento civilizado, Gonzaga demonstra mais uma vez suas diferenças com a filosofia romântica, pois segue o descrito nas regras para a confecção de éclogas nos manuais de poética da época, que instruem aos poetas que buscam a superação dos antigos, imitando-os, a utilizações de eu-líricos que se aproximem as figuras de pastores, caçadores, hortelãos e vaqueiros. Marília é ora morena, ora loira. O que comprova não ser a pastora, Maria Doroteia na vida real, mas uma figura simbólica que servia à poesia de Tomás Antônio Gonzaga. É anacronismo destinar ao sentimento existente entre o poeta e Maria Doroteia a motivação para a confecção dos poemas, tendo em vista que esse pensamento só surgiu com o pensamento Romântico, no século XIX. É mais cabível a teoria de inspiração no ideal de emulação, que configurava o sentimento poético da época, baseado nas filosofias retórico-poéticas vigentes, em que o poeta, seguindo inúmeras regras de confecção, "imitava" os poetas antigos procurando superá-los. Muitos pouco conhecedores de literatura podem acreditar que o poeta cai em contradições, ora assumindo a postura de pastor que cuida de ovelhas e vive numa choça no alto do monte, ora a do burguês Dr. Tomás Antônio Gonzaga, juiz que lê altos volumes instalados em espaçosa mesa, mas o fazem por analisar os poemas com critérios anacrônicos à época, analisam com pensamentos surgidos após o Romantismo, textos que o precedem. É interessante atentar para alguns aspectos dessa obra de Gonzaga. Cada lira é um dialogo de Dirceu com sua pastora Marília, mas, embora a obra tenha a estrutura de um diálogo, só Dirceu fala (trata-se de um monólogo), chamando Marília em geral com vocativos. Como bem lembra o crítico Antônio Candido, o melhor título para a obra seria Dirceu de Marília, mas o patriarcalismo de Gonzaga nunca lhe permitiria pôr-se como a coisa possuída.Sem esquecer que Tomás Antônio Gonzaga morreu de paixão. Ele foi mandando para a ilha das Cobras no Rio de Janeiro,depois para Moçambique na África.Casando-se com uma filha de um mercador de escravos, diga-se de passagem, logo ele que era totalmente contra a escravidão.

Durante sua permanência em Minas Gerais, escreveu Cartas Chilenas, poema satírico que ridiculariza a figura de Luís da Cunha Meneses -- governador da Capitania das Minas que aparece disfarçado pelo nome de Fanfarrão Minésio -- por seus desmandos e arbitrariedades. As cartas apresentam versos brancos (sem rimas) e decassílabos. Além de possuir um lado satírico o poema possuía um lado mordaz, agressivo e cheio de alusões, em que o poeta satiriza a mediocridade administrativa, os desmandos dos componentes do governo e a Independência do Brasil. Abaixo se encontra um trecho de Cartas Chilenas.

A autoria das Cartas Chilenas foi questionada por muito tempo, até que descobriram que eram de Tomás Antônio Gonzaga. Essas cartas são sempre dirigidas a Doroteu, que é na verdade Cláudio Manuel da Costa. O nome Cartas Chilenas se deve ao artifício usado para que parecesse que os acontecimentos da obra se passavam no Chile em vez de Minas, uma vez que não poderia ser publicada sem repressão. A obra

Cartas chilenas

Cartas Chilenas de Tomás Antônio Gonzaga

é dividida em treze cartas enviadas de Critilo a Doroteu. Nessa obra o autor faz uso de diversos pseudônimos que na verdade são personalidades que fazem parte do contexto histórico da Inconfidência Mineira, como por exemplo Silverino, que é Joaquim Silvério dos Reis, o delator do movimento inconfidente. Como se trata de um poema do Arcadismo écomum encontrarmos nele o uso de conotações, além de citações de deuses, poetas e governantes.

A poesia de Tomás Gonzaga apresenta características do arcadismo, neoclássicas, pré-românticas, dentre outras.

Em geral, a poesia de Tomás Antônio apresenta características neoclássicas: o bucólico, o pastoril, o equilíbrio, a natureza amena ... Paralelamente, possui aspectos pré-românticos, por exemplo, confissões de sentimento pessoal e descrição de paisagens brasileiras.O convívio com o Iluminismo, por sua vez, fez com que seu estilo trouxesse a preocupação em atenuar e racionalizar os conflitos e tensões.

Gonzaga escreveu versos marcados pela expressão própria, harmonização dos elementos afetivos e racionais e por certo toque de sensualidade. A poesia lírica desse autor é tida por muitos como a mais verdadeira e sensível do Arcadismo porque Gonzaga viveu realmente um amor com Maria Dorotea, Marília, e o expressoru através de sua obra. Em exílio, devido à sua participação na Inconfidência, sofreu pela falta de sua musa e

Tomas antonio gonzaga34

Basílio da Gama (sua vida e suas obras)

continuou à cantá-la em sua obra.








Lira XI (Parte II) Marília de Dirceu

Se acaso não estou no fundo Averno, Padece, ó minha bela, sim, padece O peito amante e terno As aflições tiranas, que aos precitos Arbitra Radamanto, em justa pena Dos bárbaros delitos. As Fúrias infernais rangendo os dentes, Com a mão descarnada não me aplicam As raivosas serpentes; Mas cercam-me outros monstros mais irados: Mordem-me sem cessar as bravas serpes De mil e mil cuidados. Eu não gasto, Marília, a vida toda Em lançar o penedo da montanha; Ou em mover a roda; Mas tenho ainda mais cruel tormento: Por coisas que me afligem, roda e gira Cansado pensamento. Com retorcidas unhas agarrado Às tépidas entranhas, não me come Um abutre esfaimado; Mas sinto de outro monstro a crueldade: Devora o coração, que mal palpita, O abutre da saudade. Não vejo os pomos nem as águas vejo Que de mim se retiram, quando busco Fartar o meu desejo; Mas quer, Marília, o meu destino ingrato Que lograr-te não possa, estando vendo Nesta alma o teu retrato. Estou no inferno, estou, Marília bela; E numa coisa só é mais humana A minha dura estrela: Uns não podem mover do inferno os passos; Eu pretendo voar, e voar cedo À glória dos teus braços.


A parte dois do livro Marília de Dirceu é, por si só, uma parte melancólica, pois é redijida quando Dirceu está na cadeia e morre de saudades de sua amada. A Lira XI explicita isso. Nela há traços de um amor vassalo, onde Dirceu mostra que está vivendo um inferno sem seu amor, de uma forma bem metafórica e dramática, faz analogias do seu sofrimento. Diz também que conseguirá ser feliz e se sentir vivo, se estiver ao lado de Marília.


LIRA XXXVIII (parte II) - Marília de Dirceu

Eu vejo aquela Deusa,
Tomas-Antonio-Gonzaga

Suposto rosto de Marília de Dirceu

Astréia pelos sábios nomeada;
Balança numa mão, na outra espada
O vê-la não me causa um leve abalo,
Mas, antes, atrevido,
Eu a vou procurar, e assim lhe falo:
Qual é o povo, dize,
Que comigo concorre no atentado?
Americano Povo?
O Povo mais fiel e mais honrado:
Tira as Praças das mãos do injusto dono,
Ele mesmo as submete
De novo à sujeição do Luso Trono!
Eu vejo nas histórias
Rendido Pernambuco aos Holandeses;
Eu vejo saqueada
Esta ilustre Cidade dos Franceses;
Lá se derrama o sangue Brasileiro;
Aqui não basta, supre
Das roubadas famílias o dinheiro.
Enquanto assim falava,
Mostrava a Deusa não me ouvir com gosto;
Punha-me a vista tesa,
Enrugava o severo e aceso rosto.
Não suspendo contudo no que digo;
Sem o menor receio,
Faço que a não entendo, e assim prossigo:
Acabou-se, tirana,
A honra, o zelo deste Luso Povo?
Não é aquele mesmo,
Que estas ações obrou? É outro novo?
E pode haver direito, que te mova
A supor-nos culpados,
Quando em nosso favor conspira a prova?
Há em Minas um homem,
Ou por seu nascimento, ou seu tesouro,
Que aos outros mover possa
À força de respeito, à força d’ouro?
Os bens de quantos julgas rebelados
Podem manter na guerra,
Por um ano sequer, a cem soldados?
Ama a gente assisada
A honra, a vida, o cabedal tão pouco,
Que ponha uma ação destas
Nas mãos dum pobre, sem respeito e louco?
E quando a comissão lhe confiasse,
Não tinha pobre soma,
Que por paga, ou esmola, lhe mandasse!
Nos limites de Minas,
A quem se convidasse não havia?
Ir-se-iam buscar sócios
Na Colônia também, ou na Bahia?
Está voltada a Corte Brasileira
Na terra dos Suíços,
Onde as Potências vão erguer bandeira?
O mesmo autor do insulto
Mais a riso, do que a temor me move;
Dou-lhe nesta loucura,
Podia-se fazer Netuno ou Jove.
A prudência é tratá-lo por demente;
Ou prendê-lo, ou entregá-lo
Para dele zombar a moça gente.
Aqui, aqui a Deusa
Um extenso suspiro aos ares solta;
Repete outro suspiro,
E sem palavra dar, as costas volta.
Tu te irritas! Lhe digo e quem te ofende?
Ainda nada ouviste
Do que respeita a mim; sossega, atende.
E tinha que ofertar-me
Um pequeno, abatido e novo Estado,
Com as armas de fora,
Com as suas próprias armas consternado?
Achas também que sou tão pouco esperto,
Que um bem tão contingente
Me obrigasse a perder um bem já certo?
Não sou aquele mesmo,
Que a extinção do débito pedia?
Já viste levantado
Quem à sombra da paz alegre ria?
Um direito arriscado eu busco, e feio,
E quero que se evite
Toda a razão do insulto, e todo o meio?
Não sabes quanto apresso
Os vagarosos dias da partida?
Que a fortuna risonha,
A mais formosos campos me convida?
Daqui nem ouro quero;
Quero levar somente os meus amores.
Eu, ó cega, não tenho
Um grosso cabedal, do mais herdado:
Não o recebi no emprego,
Não tenho as instruções dum bom soldado,
Far-me-iam os rebeldes o primeiro
No império que se erguia
À custa do seu sangue, e seu dinheiro?
Aqui, aqui de todo
A Deusa se perturba, e mais se altera;
Morde o seu próprio beiço;
O sítio deixa, nada mais espera.
Ah! vai-te, então lhe digo, vai-te embora;
Melhor, minha Marília,
Eu gastasse contigo mais esta hora.
Nesta lira Dirceu não é destinada a Marília, só pequenas partes que ele refere-se a ela. Ele tras outras Deusas como Astreia, que é personificação da justiça, filha de Zeus com Temis. A segunda parte foi escrita na prisão, por isso ele faz referência à outras Deusas.
Gonzaga insulta tirandentes e chama-o, até, de louco, pobre e sem respeito. Além disso fala sobre minas o que evidencia a Inconfidência Mineira.
Quando ele fala sobre o bem tão contingente e o bem já certo, ele quer se referir a independência e a Marília, ou seja, ele não é tão pouco esperto de trocar o certo pelo duvido. No caso o "certo" seria Marília e o duvidoso a Independência.
Silvério dos Reis supostamente fez uma denuncia que resultou na prisão dos poetas Claúdio Manuel da Costa e Alvarenga Peixoto, além do Alferes Joaquim José da Silva Xavier o famoso Tiradentes e, claro, o Antônio Gonzaga. Supostamente Silvério dos Reis era apaixonado por Marília e a prisão foi uma forma de separar Gonzaga de sua amada, porém isso não foi páreo para que o poeta abandonasse a obra dedicada a sua amada, Marília.


Carta 1a.
Em que se descreve a entrada, que fez
Fanfarrão em Chile.
(...)
Acorda, Doroteu, acorda, acorda;
Critilo, o teu Critilo é quem te chama:
Levanta o corpo das macias penas;
Ouvirás, Doroteu, sucessos novos,
Estranhos casos, que jamais pintaram
Na idéia do doente, ou de quem dorme
Agudas febres, desvairados sonhos.
Não és tu, Doroteu, aquele mesmo,
Que pedes, que te diga, se é verdade,
O que se conta dos barbados monos,
Que à mesa trazem os fumantes pratos?
Não desejas saber, se há grandes peixes,
Que abraçando os Navios com as longas,
Robustas barbatanas, os suspendem,
Inda que o vento, que d'alheta sopra,
Lhes inche os soltos, desrizados panos?
Não queres, que te informe dos costumes
Dos incultos Gentios? Não perguntas,
Se entre eles há Nações, que os beiços furam?
E outras, que matam com piedade falsa
Os pais, que afroxam ao poder dos anos?
Pois se queres ouvir notícias velhas,
Dispersas por imensos alfarrábios,
Escuta a história de um moderno Chefe,
Que acaba de reger a nossa Chile,
Ilustre imitador a Sancho Pança.
E quem dissera, Amigo, que podia
Gerar segundo Sancho a nossa Espanha!
Não penses, Doroteu, que vou contar-te
Por verdadeira história uma novela
Da classe das patranhas, que nos contam
Verbosos Navegantes, que já deram
Ao globo deste mundo volta inteira:
Uma velha madrasta me persiga,
Uma mulher zelosa me atormente,
E tenha um bando de gatunos filhos,
Que um chavo não me deixem, se este Chefe
Não fez ainda mais, do que eu refiro.
(...)
Tem pesado semblante, a cor é baça,
O corpo de estatura um tanto esbelta,
Feições compridas, e olhadura feia,
Tem grossas sobrancelhas, testa curta,
Nariz direito, e grande; fala pouco
Em rouco baixo som de mau falsete;
Sem ser velho, já tem cabelo ruço;
E cobre este defeito, e fria calva
À força de polvilho, que lhe deita.
Ainda me parece, que o estou vendo
No gordo rocinante escarranchado!
As longas calças pelo embigo atadas,
Amarelo colete, e sobre tudo
Vestida uma vermelha, e justa farda:
(...)

Marilia de Dirceu -Programa Retratos-


Marilia_de_Dirceu_Programa_Retratos_1.o_Bloco

Marilia de Dirceu Programa Retratos 1.o Bloco






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Marilia de Dirceu Programa Retratos 2.o Bloco






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Marilia de Dirceu Programa Retratos 3.o Bloco







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