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A seguir temos a análise da Lira I da parte dois do livro "Marília de Dirceu ". Embora não seja o tema central deste post , faz-se necessário lembrar, que Tomás Antônio Gonzaga foi um grande poeta doArcadismo no Brasil, um apoixonado por uma moça com quem nunca iria casar. O que fez este caso amoroso como um dos mais conhecidos da História do Brasil, o que não significa que este seja um relacionamento com um final feliz.

Lira I

"Já não cinjo de louro a minha testa;

Nem sonoras canções o Deus me inspira:

Ah! que nem me resta

Uma já quebrada,

Mal sonora Lira!

Mas neste mesmo estado, em que me vejo,

Pede, Marília, Amor que vá cantar-te:

Cumpro o seu desejo;

E ao que resta supra

A paixão, e a arte.

A fumaça, Marília, da candeia,

Que a molhada parede ou suja, ou pinta,

Bem que tosca, e feia,

Agora me pode

Ministrar a tinta.

Aos mais preparos o discurso apronta:

Ele me diz, que faça do pé de uma

Má laranja ponta,

E dele me sirva

Em lugar de pluma.

Perder as úteis horas não, não devo;

Verás, Marília, uma idéia nova:

Sim, eu já te escrevo,

Do que esta alma dita

Quando amor aprova.

Quem vive no regaço da ventura

Nada obra em te adorar, que assombro faça:

Mostra mais ternura

Quem te ensina, e morre

Nas mãos da desgraça.

Nesta cruel masmorra tenebrosa

Ainda vendo estou teus olhos belos,

A testa formosa,

Os dentes nevados,

Os negros cabelos.

Vejo, Marília, sim, e vejo ainda

A chusma dos Cupidos, que pendentes

Dessa boca linda,

Nos ares espalham

Suspiros ardentes.

Se alguém me perguntar onde eu te vejo,

Responderei: No peito, que uns Amores

De casto desejo

Aqui te pintaram,

E são bons Pintores.

Mal meus olhos te riam, ah! nessa hora

Teu retrato fizeram, e tão forte,

Que entendo, que agora

Só pode apagá-lo

O pulso da Morte.

Isto escrevia, quando, ó Céus, que vejo!

Descubro a ler-me os versos o Deus louro:

Ah! dá-lhes um beijo,

E diz-me que valem

Mais que letras de ouro."

Na primeira parte, podemos ver que Dirceu , agora preso na Ilha das Cobras , já diz que parte do seu sentimento amoroso foi repartido com o medo, com a solidão e com a saudade de Marília, traço que representa todas as liras da parte 2 , onde segundo alguns estudiosos da obra, encontramos a melhor poesia deGonzaga . Mas, apesar de todos os impasses, ele sente que o seu amor por Marília o faz escrever liras, mesmo não tendo o que escrever.

Na terceira estrofe ele descreve o lugar onde se encontra escrevendo: "Fumaça da Candeia, paredes sujas ou pintadas, não se sabe" Diz características da sua alimentação: ele era alimentado do fruto de uma laranjeira ponta.

Vemos nas próximas estrofes uma ágil mudança de assunto, onde ele começa a falar de seu sentimento naquela masmorra suja e medonha, e mesmo estes aspectos tenebrosos não o faz esquecer de sua linda paixão: "Cabelos negros, dentes nevados" isso ele escrevia quando via os céus provavelmente em uma manhã no Rio de Janeiro

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