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Barroco

Gregório de Matos

Auto-retrato de Gregório de Matos

Gregório de Matos (1636-1696) foi poeta brasileiro. A figura mais importante da época colonial. O maior poeta do barroco brasileiro. Por suas críticas à sociedade baiana, recebeu o apelido de "Boca do Inferno".

Gregório de Matos (1636-1696) nasceu em Salvador, Bahia, no dia 23 de dezembro de 1636. Filho de pai português e mãe baiana, frequentou o Colégio da Companhia de Jesus. Foi estudar na Universidade de Coimbra. Em 1661 já está casado e formado em Direito. Neste mesmo ano, é nomeado juiz em Alcácer do Sal, no Alentejo. Volta à Salvador, nomeado procurador da cidade, junto a corte portuguesa. Fica viúvo e casa-se novamente.

Além de grande poeta, fez também um trágico retrato da vida e da cultura baiana do século XVII. Como não havia imprensa no Brasil Colônia, seus poemas tiveram circulação escrita e oral. Sua produção poética pode ser dividida em três linhas: satírica, lírica e religiosa. Seus poemas líricos e religiosos revelam influência do barroco espanhol. Sua poesia satírica é do tipo que ataca sem compostura, toda a sociedade baiana (uma das características de suas poesias era criticar a sociedade como um todo e nao apenas uma parcela), da qual ele se sentia um censor e uma vítima. Por suas críticas ferinas, recebeu o apelido de "Boca do Inferno".

Em 1694, por suas críticas violentas e debochadas às autoridades da Bahia, é degredado para Angola. Em 1695 recebe permissão para voltar ao Brasil, mas não para a Bahia. Vai viver na cidade do Recife.

Gregório de Matos Guerra morreu no Recife, no dia 26 de novembro de 1696.

É o patrono da 16ª cadeira da Academia Brasileira de Letras. Em 1650, viajou à Portugal com o objetivo de se formar na Universidade de Coimbra, onde pôde presenciar o fortalecimento da burguesia urbana em função do comércio de produtos brasileiros, e uma nova mentalidade mais comprometida com os fatores de ordem extrarreligiosa e o afastamento da influência castelhana. Foi nomeado arcebispo, mas destituído de seu cargo por não obedecer às ordens de autoridades nem aceitar usar batina. Essa experiência lhe proporcionou uma visão satírica do governo, do comércio e da religião, as quais são transmitidas ao leitor por meio de suas obras. Nunca foi considerado de fato brasileiro, já que todos que nasceram antes da independência eram considerados luso-brasileiros.

Escreveu poesia lírica,satírica e religiosa. Sua poesia foi considerada erótica, mas não pornográfica. Suas poesias satíricas possuem um ótimo material do ponto de vista sociológico e linguístico(já que o autor usava um vocabulário bem popular).Nelas o escritor narra episódios da vida popular,cotidiana e política.Através delas podemos conhecer melhor a sociedade da época(período colonial).

A poesia lírica de Gregótio de Matos pode ser dividida em 3 temas:

-Poesia lírica-amorosa

-Poesia lírica-filosófica

-Poesia lírica-religiosa

Obras

Coletânea de Gregório de Matos “Florilégio da Poesia Brasileira".



Em 1850, o historiador Francisco Adolfo de Varnhagen, publicou 39 dos seus poemas da coletânea “Florilégio da Poesia Brasileira” (em Lisboa). A sua obra tinha um cunho bastante satírico e moderno para a época, além de chocar pelo teor erótico, de alguns de seus versos.



A alcunha boca do inferno foi dada a Gregório por sua ousadia em criticar a Igreja Católica, muitas vezes ofendendo padres e freiras. Criticava também a "cidade da Bahia", ou seja, Salvador, como neste soneto:

Tristes sucessos, casos lastimosos,''

Desgraças nunca vistas, nem faladas.''

São, ó Bahia, vésperas choradas''

De outros que estão por vir estranhos''

Sentimo-nos confusos e teimosos''

Pois não damos remédios as já passadas,''

Nem prevemos tampouco as esperadas''

Como que estamos delas desejosos.''

Levou-me o dinheiro, a má fortuna,''

Ficamos sem tostão, real nem branca,''

macutas, correão, nevelão, molhos:''

Ninguém vê, ninguém fala, nem impugna,''

E é que quem o dinheiro nos arranca,''

Nos arrancam as mãos, a língua, os olhos.''

"Triste_Bahia"_Gregório_de_Matos

"Triste Bahia" Gregório de Matos

À época de seu exílio em Londres, 1972, Caetano Veloso retomou seu conterrâneo Gregório na canção Triste Bahia. A letra, além de se utilizar do poema também a trouxe para um contexto mais próximo da realidade que o cantor vivenciava àquela época em que a ditadura dava as cartas. "...Eu já vivo tão cansado de viver aqui na terra. Minha mãe eu vou pra lua. Eu, mais a minha mulher..."



Este soneto mostra as críticas que Gregório sempre fazia a Salvador e a Igreja :


Tristes sucessos, casos lastimosos,
Desgraças nunca vistas, nem faladas.
São, ó Bahia, vésperas choradas
De outros que estão por vir estranhos
Sentimo-nos confusos e teimosos
Pois não damos remédios as já passadas,
Nem prevemos tampouco as esperadas
Como que estamos delas desejosos.
Levou-me o dinheiro, a má fortuna,
Ficamos sem tostão, real nem branca,
macutas, correão, nevelão, molhos:
Ninguém vê, ninguém fala, nem impugna,
E é que quem o dinheiro nos arranca,
Nos arrancam as mãos, a língua, os olhos.


Boca

Livro "Boca do Inferno" de Gregório de Matos

Gregório de Matos, o Boca do inferno(Bahia, 1633-Recife, 1696)[]

" E'u sou aquele, que os passados anos[]

Cantei na minha lira maldizente

Torpezas do Brasil, vícios e enganos." Assim se define Gregório, no início da poesia "Aos vícios". E, realmente sua poesia satírica procura criticar o brasileiro, o administrador português, El-Rei, o clero e, numa postura moralista, os costumes da sociedade beiana do século XVII (o que explica a alcunha "Boca do Inferno"). É patente um sentimento nativista quando ele separa o que é brasileiro do que é exploração lusitana.

Poemas gregorio-z

Poemas

Em varios poemas, Gregório o "Boca do Inferno" se referem claramente contra a igreja , contra o governo de portugal, é incrivel como ele encaixa palavras criando satiras que se encaixam na situação, como vemos tambem a diferenciação da opinião dele contra a igreja em si e afavor de Deus, e tambem poemas que mostram os dois lados , como por exemplo os desejos carnais e o santisímo.


Escrevia poemas em cinco tendências: religiosa, satírica, lírico-amorosa, erótica e reflexiva.


A Poesia Religiosa

Poemas que tratam do tema da salvação espiritual do homem.

Buscando a Cristo

A vós correndo vou, braços sagrados,

Nessa cruz sacrossanta descobertos

Que, para receber-me, estais abertos,

E, por não castigar-me, estais cravados.


A vós, divinos olhos, eclipsados

De tanto sangue e lágrimas abertos,

Pois para perdoar-me, estais despertos,

E, por não condenar-me, estais fechados.


A vós, pregados pés, por não deixar-me,

A vós, sangue vertido, para ungir-me,

A vós, cabeça baixa, p'ra chamar-me


A vós, lado patente, quero unir-me,

A vós, cravos preciosos, quero atar-me,

Para ficar unido, atado e firme.


Muitas vezes usava em seus poemas religiosos o silogismo, que tendia a uma conclusão um pouco errônea pela visão dos religiosos, como acontece em seu soneto A Jesus Cristo Nosso Senhor, em que fala que Jesus tem como obrigação perdoa-lo, para se enaltecer.


A Poesia Satírica

Faz críticas à situação econômica da Bahia, principalmente da cidade de Salvador. Além disso, criticava a Igreja e a religiosidade presente no momento.


A cada canto um grande conselheiro

Que nos quer governar cabana e vinha;

Não sabe governar sua cozinha,

E podem governar o mundo inteiro.


Em cada porta um bem frequente olheiro,

Que a vida do vizinho e da vizinha

Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha,

Para o levar à praça e ao terreiro.


Muitos mulatos desavergonhados,

Trazidos sob os pés os homens nobres,

Posta nas palmas toda a picardia,


Estupendas usuras nos mercados,

Todos os que não furtam muito pobres;

E eis aqui a cidade da Bahia.

CONTEMPLANDO NAS COUSAS DO MUNDO DESDE O SEU RETIRO,LHE ATIRA COM SEU ÁGUAPE COMO QUEM A NADO ESCAPOU DA TORMENTA.

Neste mundo é mais rico o que mais capa;

Quem mais limpo se faz tem mais carepa;

com sua lingua,ao nobre vil o vil decepa;

O velhaco maior sempre tem capa.

Mostra o patife da nobreza o mapa;

Quem tem mao de agarrar,ligeiro trepa;

Quem menos falar pode,mais increpa;

quem dinheiro tiver pode ser papa.

A flor se incula por tulipa;

Bengala hoje na mao,ontem garlopa

mas isento se mostra o que mais chupa

Para a tropa do trapo vazo a tripa;

Emais nao digo,porque a musa topa

Em apa,epa,ipá,opa,upa.

-Aqui Gregorio faz criticas aos importunistas,aqueles que pretendem descender de uma linhagem nobre,fraudando a genealogia.O poeta critica a rapida ascençao social dos arrivistas e outro verso metonimio em "mais isento se mostra,o que mais chupa"os que mais cometem delitos mais querem parrecer inocente.

Esta poesia tambem é uma poesia satirica.

Triste Bahia

Triste Bahia! Ó quão dessemelhante
Estás e estou do nosso antigo estado!
Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado,
Rica te vi eu já, tu a mi abundante.

A ti trocou-te a máquina mercante,
Que em tua larga barra tem entrado,
A mim foi-me trocando, e tem trocado,
Tanto negócio e tanto negociante.

Deste em dar tanto açúcar excelente
Pelas drogas inúteis, que abelhuda
Simples aceitas do sagaz Brichote.

Oh se quisera Deus que de repente
Um dia amanheceras tão sisuda
Que fora de algodão o teu capote!

Outra poesia satirica é "Triste Bahia", citada acima. A poesia faz uma grande e explícita crítica à situação econômica Baiana do século XVII. A poesia mostra a falência da Bahia causada pelo mau negócio dos produtos e exploração da mão-de-obra.


A Poesia Lírico-amorosa

Na poesia o poeta revela sua amada, que é uma mulher bela e é constantemente comparada a elementos da natureza. Enquanto o amor desperta seus desejos corporais, o poeta é assaltado pela culpa e angústia do pecado.

Pintura Admirável de uma Beleza

Vês esse Sol de luzes coroado?

Em pérolas a Aurora convertida?

Vês a Lua de estrelas guarnecida?

Vês o Céu de Planetas coroado?


O Céu deixemos; vês naquele prado

A Rosa com razão desvanecida?

A Açucena por alvo presumida?

O Cravo por galã lisonjeado?


Deixa o prado; vem cá minha adorada,

Vês de esse mar a esfera cristalina

Em sucessivo aljôfar desatada?


Parece aos olhos ser de prata fina?

Vês tudo isto bem? Pois tudo é nada

À vista do teu rosto, Caterina.


A Poesia Erótica

Exalta a sensualidade das amantes que conquistou na Bahia. Prende-se ao amor carnal.

O amor é finalmente

Um embaraçado de pernas

Uma união de barrigas

Um breve tremor de artérias

Uma confusão de bocas

Uma batalha de veias

Um reboliço de ancas

Quem diz outra coisa é besta.


A Poesia de Reflexão

Aborda a desilusão diante das coisas erradas; forte presença do termo Carpe Diem.

Carregado de mim ando no mundo.

E o grande peso embarga-me as passadas

Que como ando por vias desusadas.

Faço o peso crescer e vou-me ao fundo


O remédio será seguir o imundo

Caminho onde dos mais vejo as pisadas.

Que as bestas andam juntas mais ornadas,

Do que anda só o engenho mais profundo.


Não é fácil viver entre os insanos.

Erra, quem presumir que sabe tudo

Se o atalho não soube dos seus danos.


O prudente varão há de ser o mudo,

Que é melhor neste mundo o mar de enganos

Ser louco c'os demais, que ser sisudo.


Gregório de Matos, devido às críticas que fazia, começou a ser perseguido pelas autoridades locais. Foi acusado de blasfêmia, muitas vezes e de não demonstrar reverência. Também foi preso em 1694 e deportado depois para Angola. Só sendo autorizado a voltar para o Brasil dois anos depois.

Mesmo escrevendo diversos poemas , o autor nunca os publicou em vida. Suas obras só foram publ icadas quando Afrânio Peixoto as reuniu em 6 volumes , publicados no Rio de Janeiro, pela Academia Brasileira de Letras entre os anos de 1923 e 1933 , com o título de "Obras de Gregório de Matos". Os volumes se dividiram em :


  • -Vol. I, Sacra


  • -Vol. II, Lírica


  • -Vol. III, Graciosa


  • -Vols. IV e V, Satírica
  • -Vol. VI, Última]


Poemas:

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Cena do filme "Gregorio de Matos"








Beija-flor

Anjo bento

Senhora Dona Bahia

Descrevo que era realmente naquele tempo a cidade da Bahia

Finge que defende a honra da cidade e aponto os vícios

Define sua cidade

A Nossa Senhora da Madre de Deus indo lá o poeta

Ao mesmo assunto e na mesma ocasião

Ao braço do mesmo Menino Jesus quando apareceu

A NSJC com actos de arrependido e suspiros de amor

Ao Sanctissimo Sacramento estando para comungar

A S. Francisco tomando o poeta o habito de terceiro

No dia em que fazia anos

Impaciência do poeta

Buscando a cristo

Soneto - Carregado de mim ando no mundo

Soneto I - À margem de uma fonte, que corria

Soneto II - Na confusão do mais horrendo dia

Soneto III - Ditoso aquele, e bem-aventurado

Soneto IV - Casou-se nesta terra esta e aquele

Soneto V - Bote a sua casaca de veludo

Soneto VI - A cada canto um grande conselheiro

Triste Bahia


ILHA DE ITAPARICA - Gregório de Matos

Descreve a Ilha de Itaparica com sua aprazivel fertilidade, e louva de caminho ao Capitão Luiz Carneyro homem honrado, e liberal, em cuja casa se hospedou.


Ilha de Itaparica, alvas areias,

Alegres praias, frescas, deleitosas,

Ricos polvos, lagostas deliciosas,

Farta de Putas, rica de baleias.


As Putas tais, ou quais não são más preias,

Pícaras, ledas, brandas, carinhosas,

Para o jantar as carnes saborosas,

O pescado excelente para as ceias.


O melão de ouro, a fresca melancia,

Que vem no tempo, em que aos mortais abrasa

O sol inquisidor de tanto oiteiro.


A costa, que o imita na ardentia,

E sobretudo a rica, e nobre cas

Do nosso capitão Luís Carneiro


Gregório drescreve a ilha de Itaparica destacando a riqueza da paisagem. Não só a paisagem, como também dos animais como os polvos e lagostas. Ele traz no poema as putas e gordas, sendo que ele caracteriza as putas como vagabundas, preguiçosas e que não tem tão baixa condição de vida, sendo assim, pode ocorrer de venderem o corpo porque querem e não porque necessecitam. Já as baleias, que são as gordas, são ricas e fartas. Analisando por esse lado dá se a entender a diferença de classe entre os ricos e os mais pobres.[]

O barroco por ser uma libertação tanto espacial como mental, da simetria e da antítese, ele assume um significado de uma atitude criativa liberta de preconceitos interlectuais e formais.

Quando Gregório cita "o melão de ouro" e a fresca melancia, a intenção dele é polarizar a sensualidade da paisagem nas formas femininas e fazer referência da forma solar. O curioso é que ele faz uma parodização do poema Ilha de Itaparica com os textos ufanistas, com refência aos elementos naturais e a adjetivação.

O meio tropical torna-se objeto de admiração, por isso a ilha de Itaparica ganha um poema de Gregório. Por suas belezas naturais.



Extras:


Poemas_Escolhidos_-_Gregório_de_Matos_-_Análise_Literária_Gazeta_do_Povo

Poemas Escolhidos - Gregório de Matos - Análise Literária Gazeta do Povo

Aula muito bacana do professor João Amalio Ribas, falando um pouco sobre gregorio de matos

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